7 de ago. de 2010

Tecnologia - Uma Luz Escura no Futuro do 3D


A tecnologia 3D pode ter um futuro brilhante pela frente, mas no momento a perspectiva não é essa. O título acima não é apenas uma metáfora, é a pura verdade. Os filmes em 3D – sejam aqueles originalmente rodados nesse formato, ou os que são convertidos em pós-produção – são exibidos nos cinemas em níveis de luminosidade significativamente mais baixos do que as produções convencionais (2D). E, cada vez mais, esse detalhe atrapalha a diversão do público, deixando os produtores preocupados. Talvez isso prejudique a aceitação dessa tecnologia, que é uma das grandes apostas da indústria de cinema.

Num artigo para a revista Newsweek, o crítico Roger Ebert mencionou que uma das razões para não gostar de ver filmes em 3D era justamente o fato de que a imagem é "muito mais escura" que a dos outros filmes. Mesmo Avatar, que foi rodado em 3D usando técnicas de aumento da luminosidade, precisou ser exibido em níveis de luz equivalentes à metade do normal. E os problemas são exacerbados quando um filme – como o desastroso Fúria de Titãs – é convertido para 3D depois de pronto. O filme era tão escuro que deve ter assustado alguns espectadores...
Até mesmo cineastas estão detestando a tecnologia 3D por causa desse problema. Christopher Nolan, de Inception, por exemplo, conta que se recusou a rodar o filme nesse formato. "Do ponto de vista técnico, é uma tecnologia fascinante. Mas, na tela, a escuridão que se vê é alienante para o público". Segundo Nolan, o processo de produção em 3D faz enorme diferença em termos de brilho da imagem. "O público não percebe porque, quando as luzes do cinema se apagam, os olhos compensam a falta de brilho. Mas é impossível colocar filtros polarizadores em tudo".
Nolan chega a fazer cálculos em foot-lamberts (unidade básica de luminância, que serve para medir o brilho da tela de cinema) para explicar a diferença entre a projeção 3D e a convencional. Mas, ao afirmar que a imagem 2D é projetada a 16 FL, enquanto em 3D perdem-se automaticamente 3FL, o cineasta está subestimando o efeito 3D. Na verdade, um sistema de projeção 3D pode perder até mais de 80% da luminosidade de um sistema 2D, resultando numa imagem de apenas 2 ou 3FL. "Acho que esse é um obstáculo para o público apreciar o 3D", diz Lenny Lipton, estudioso do assunto desde a década de 1980. "A maior reclamação que se ouve na platéia, e também entre pessoas da indústria, é que os filmes são muito escuros".
Apenas para recordar como funciona a projeção em 3D:
 *A especificação de 16FL é um padrão estabelecido pela SMPTE (Society of Motion Picture and Television Engineers) para um projetor sem filme. Se você coloca um filme 2D com esse padrão de brilho, chega a cerca de 14FL, um nível de luminosidade considerado apropriado.
*Como se sabe, em 3D são projetadas duas imagens, uma para cada olho. Alguns sistemas (como o da Texas Instruments) projetam as imagens em seqüência; outros (como o da Sony) o fazem simultaneamente. Ambos utilizam óculos para misturar as imagens e obter o efeito tridimensional. 
*Qualquer que seja o processo, no entanto, ao dividir a imagem em duas perde-se metade da luz. "Metade vai para cada olho", explica Lipton. "Instantaneamente, os 14FL são reduzidos para sete. Com os óculos decodificando as duas imagens, diminui-se mais ainda a luminosidade". Isso, segundo ele, acontece tanto no método de polarização RealD quanto no método Dolby de divisão espectral.
 O especialista conta que Avatar foi exibido, na maioria dos cinemas, em apenas 4,5FL; outros filmes 3D chegaram a 2FL. E quando o filme não foi rodado em 3D a escuridão é ainda maior, pois o diretor não pode compensar o problema usando mais luz nas cenas.
Outro expert, Doug Darrow, da empresa Laser Light Engines, vai mais longe. "Nos sistemas 3D atuais, o público não está vivenciando a verdadeira imersão que essa tecnologia pode proporcionar. Apesar do sucesso, as imagens não têm brilho suficiente, e dessa forma o efeito não é tão bom quanto poderia ser".
Embora seja irreal esperar que as projeções em 3D tenham 14 foot-lamberts, a maioria das pessoas em Hollywood concorda que filmes 2D sejam em 14FL e filmes 3D em pelo menos 10FL. Mas, em telas muito grandes, isso jamais acontece; os filmes 3D têm cerca de um terço do brilho dos 2D. "Quando se chega ao nível de 3FL, perde-se a noção da cor e as imagens ficam sem vida", diz Lipton.
Bem, mas então o que pode ser feito? O problema – diz um executivo da indústria que pediu para não ser identificado – é que não se pode usar lâmpadas muito maiores, nem aumentar a amperagem da fonte de luz; isso causaria superaquecimento, entre outros problemas. Telas de alto ganho, como as que são usadas no sistema RealD, podem aumentar a luminosidade em 2FL, mas isso torna a imagem apenas "tolerável", acrescenta Lipton, que entre outras atividades trabalhou no desenvolvimento desse sistema.

Por: Gledson Luis - 07/08/10

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