Há uma onda espírita no cinema brasileiro. Depois de Bezerra de Menezes e do blockbuster Chico Xavier,
dirigido por Daniel Filho, com quase 3,5 milhões de pagantes, chegou às
telas na sexta-feira (3) outro título com vocação para lotar os
cinemas. A superprodução Nosso Lar - a mais cara já realizada
no País, com orçamento em torno de R$ 20 milhões - tem como
matéria-prima o best seller de Chico Xavier, que descreve a vida depois
da morte tendo por base os relatos do espírito do médico André Luiz nos
anos 30.
O diretor Wagner de Assis (A Cartomante)
conhece a obra desde os anos 80 e ficou atraído pela possibilidade de
adaptá-la para o cinema. "Pela força da história, pelo paradigma que
ela apresenta, pelas possibilidades e desafios visuais e técnicos para
realizá-la. Então eu pensei: por que não?", conta.
Obtidos os direitos para o cinema junto à Federação Espírita
Brasileira, o cineasta se pôs a trabalhar. "Comecei a desenvolver os
conceitos mais complexos: saber a importância do livro, a força da
história, tentar tirar dele a dramaturgia possível dentro do personagem
principal, abrir ao máximo discurso".
Como todos os diretores que se arriscam nesta seara, Wagner
nega o rótulo filme espírita. "O que é filme espírita? Eu não sei
responder. Chico Xavier é uma cinebiografia, Bezerra de Menezes também. Nosso Lar
é um drama. Não é um gênero. É uma necessidade de mercado. Nós nunca o
tratamos como sendo um filme espírita", explica ele, que também não é
um seguidor da doutrina. "Costumo dizer que sou espírita-cristão,
ecumênico. Estudei em escola católica, lia sobre o espiritismo. Gosto
de muita coisa que se pratica, principalmente a indulgência, o respeito
as outras religiões".
A coincidência temática entre Nosso Lar com alguns
sucessos de bilheteria recentes e outros que estão por vir é encarada
pelo cineasta como um sinal dos tempos. "Talvez esse assunto (a
espiritualidade) seja interessante hoje, em que filosofias de vida
precisam ser repensadas. Não é uma onda de filme espírita. É um tema
que volta ao cinema brasileiro".
Cenário de ficção científica
Transpor o livro para a tela não foi tarefa fácil, sobretudo
criar um mundo espiritual, o Nosso Lar do título, onde o médico André
Luiz (Renato Prieto) aterrisa depois de morto, não sem antes cumprir
uns dias no umbral (espécie de purgatório). Os cenários lembram uma
cidade futurista e os efeitos foram criados pelos técnicos da empresa
canadense Intelligent Creatures, de sucessos como Watchmen
(2009). "Pelo trailer houve quem pensasse que era uma ficção
científica. Nós partimos de um conceito de ir contando a história da
arquitetura, com casinhas art-decó e que respinga na arquitetuta de
Oscar Niemeyer e Santiago Calatrava". Os requintes de produção ainda
incluem a trilha sonora assinada por Philip Glass (As Horas, Kundun) e a fotografia do suíço Uli Steiger (O Dia Depois de Amanhã)
Grande parte das imagens foi criada em computador. "Alguns
cenários são reais e outros virtuais, assim como tem cenas em que há
uma mescla de ambos. Estou curioso para ver como o público espírita vai
reagir", diz um entusiasmado Wagner, confiante no poder de atração
sobre os leitores da obra, que já vendeu 2 milhões de exemplares, está
em sua 60ª edição e foi traduzida para cerca de 10 idiomas.

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