16 de out. de 2009

Especial: Os Quinze Filmes Que Mudaram a Face da Ficção Científica - e o Modo de Ver e Fazer Cinema


A ficção científica pode ser encarada como mero programa para "matar o tempo", mas exerce seu papel mais facinante quando atua como espelho da sociedade. Adotando a ciência como ponto de partida (nunca como fim), os melhores filmes do gênero nos transportam a realidades imaginárias, nas quais nossas fobias e esperanças ganham dimensões deslumbrantes.

Em uma sociedade cada vez menos inclinada a debater as idiossincrasias do "bicho" homem, a ficção cinematográfica pode ter se tornado um oráculo de nossos tempos. Parafraseando o delinquente Alex, protagonista de Laranja Mecânica: "Estranhamente as cores do mundo real parecem muito mais reais quando videadas no cinema".


VIAGEM À LUA (LE VOYAGE DANS LA LUNE)

Realizado pelo grande precursor do cinema fantástico - o francês Georges Mélies, também patrono dos efeitos especiais - esta aventura inspirada na literatura de H.G. Wells capturou a imaginação do público com seus quatorze minutos de imagens lúdicas, que mostravam a primeira expedição terrestre à Lua. Mélies rodou esta obra-prima 67 anos antes de astronautas de verdade imitarem seus protagonistas, fincando uma bandeira em solo lunar, em 1969, As duas viagens entraram para a história - e aguçaram nosso apetite por jornadas épicas, além da imaginação. 

(Le Voyage Dans La Lune, França, 1902) De George Mélies. Com Victor André, Bleuette Bernon. 14 min.


METRÓPOLIS (METRÓPOLIS)

Talvez a obra de ficção mais influente de todos os tempos. Iluminou a imaginação de incontáveis diretores de arte com seus sets fabulosos, que propunham uma integração entre o elemento humano e a máquina - inspirando, mais tarde o visual de Blade Runner e de Batman. O aspecto mais interessante da produção foi sua capacidade de prever o futuro: a sociedade asséptica e desumanizada da trama (que prioriza a razão, em detrimento de qualquer emoção) deixou de ser cenário de um filme de ficção.

(Metrópolis, Alemanha, 1927) De Friz Lang. Com Alfred Abel, Brigitte Helm. 118 min.


FRANKESTEIN (FRANKESTEIN)

"Está vivo... Vivo!" As palavras do Barão Frankestein eram um alerta sombrio, mais pungente que a emoção de recriar, quase à perfeição, o mecanismo da vida. Ao vivificar sua criatura - que, apesar de grotesca, era moralmente superior ao cientista -, Frankestein mostrou o caminho a Oppenheimer e a outros sábios modernos, que nos legaram uma geração de monstros: a bomba atômica, a guerra bacteriológica, a engenharia genética... Ironicamente, Frankestein foi o patrono de nossa era.

(Frankestein, EUA, 1931) De James Whale. Com Colin Clive, Boris Karloff. 71 min.


O DIA EM QUE A TERRA PAROU (THE DAY THE EARTH STOOD STILL)

Quando o homem das estrelas vivido por Michael Rennie desembarcou em solo norte-americano - devidamente acompanhado por Gort, robô implacável e indestrutível -, a sociedade moderna recebeu um ultimato: os testes nucleares deveriam ser suspensos, ou inteligências mais evoluídas nos erradicariam do universo. A mensagem pacifista de O Dia Em Que A Terra Parou antecipou o Verão do Amor e a proliferação de movimentos em prol do desmatamento, que ganharam força nos anos 60.

(The Day the Earth Stood Still, EUA, 1951) De Robert Wise. Com Michael Rennie, Patricia Neal. 92 min.


A MÁQUINA DO TEMPO (THE TIME MACHINE)

Outra adaptação da obra de Wells, este misto de aventura e ficção científica contava a odisséia de um inventor (Rod Taylor) que visita o ano 802.701 em um engenho projetado na era vitoriana. Ao aportar no futuro - dividido entre Elois (seres juvenis ingênuos, que habitam a superfície do planeta) e Morlocks (predadores antrópofagos que vivem em cavernas) - o herói percebe que a "luta de classes" não se resolverá no presente e assumirá contornos ainda mais escabrosos o futuro.

(The Time Machine, EUA, 1960) De George Pal. Com Rod Taylor, Yvette Mimieux. 103min. O


PLANETA DOS MACACOS (PLANET OF THE APES)

Em 3979, astronautas norte-americanos desembarcam em um mundo governado por macacos, que evoluíram e escravizaram a raça humana. Pesadelo darwinista escrito por dois humanistas (Rod Serling, criador de Além da Imaginação, e Michael G. Wilson, um dos perseguidos do Macarthismo), O Planeta dos Macacos transcedia o rótulo de ficção, propondo uma crítica ácida aos EUA do período - imerso em conflitos de raça e malfadadas campanhas intervencionistas, como a Guerra do Vietnã.

(Planet of The Apes, EUA, 1968) De Franklin J. Schaffner. Com Charlton Heston, Roddy McDowall. 112min.


2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO (2001: A SPACE ODISSEY)

"Hello Dave..." Stanley Kubrick dirigiu o maior dos filmes de ficção - não só em tamanho (ostenta longos 139 minutos de projeção), mas em ambição: o enredo centra-se no início da colonização humana do espaço, mas este aspecto é a porta de entrada para uma trama de conotações espirituais, na qual o astronauta Dave (Keir Dullea) viaja aos confins do Cosmo, transcede os limites da matéria e se converte em um novo protótipo de homem, mais próximo de Deus na escala da evolução.

(2001: A Space Odissey, Inglaterra/EUA, 1968) De Stanley Kubrick. Com Keir Dullea, Gary Lockwood. 139min.


LARANJA MECÂNICA (A CLOCKWORK ORANGE)

Após redimir o homo sapiens em sua ficção anterior, Kubrick pintou um retrato mais sombrio da natureza humana em Laranja Mecânica, obra inspirada em novela homônia de Anthony Burgess. O filme é estrelado por Alex, jovem predador que, em companhia de seus fiéis drugues, barbariza a Londres do futuro cometendo estupros, assaltos e espancamentos. Preso pelo governo, o protagonista é submetido a lavagem cerebral que visa inibir seus "reflexos criminosos". Fundamentalmente, uma discussão sobre a capacidade de exercer ou não o livre-arbítrio em sociedades rigidamente contraladas.

(A Clockwork Orange, EUA, 1971) De Stanley Kubrick. Com Malcolm McDowell, Patrick Magee. 137min.


STAR WARS - UMA NOVA ESPERANÇA (STAR WARS - A NEW HOPE)

A Força, os Jedi's e o monstruoso império tecnocrático representado por Darth Vader levaram ao espaço - e ao metiê dos filmes-pipoca - questões raramente debatidas em produções infanti-juvenis: a temeridade de estados ditatoriais, a corrupção política (instaurada em qualquer sociedadee evoluída) e, acima de tudo, a necessidade de se combater tais ameaças, nem que seja por meio de uma revolução - no caso, orquestrada pelos mocinhos prediletos de dez entre dez guris dos anos 70: Luke Skywalker, Han Solo, C-3PO, Princesa Leia, R2D2, Chewbacca...

(Star Wars- A New Hope, EUA, 1977) De George Lucas. Com Mark Hamill, Harrison Ford. 125min.


CONTATOS IMEDIATOS DO TERCEIRO GRAU (CLOSE ENCOUNTERS OF THE THIRD KIND)

Extraterrestres estabelecem contato com os humanos, o que obriga o homem a reavaliar seu papel no cosmo. Os alienígenas de Contatos Imediatos não eram malvados (e não representavam o comunismo, paranóia que marcou o filão nos anos 50). Mais que a extensão do otimismo de Spilberg, os novos ETs evocavam um ideal de pacifismo e cooperação almejado nos tempos da guerra Fria.

(Close Encounters of the Third Kind, EUA, 1977) De Steven Spilberg. Com Richard Dreyfuss, Teri Garr. 132min.


ALIEN - O 8º PASSAGEIRO (ALIEN)

"Seu grito não será ouvido no espaço", alardeava o cartaz promocional do melhor "filme de monstros" rodado nos anos 80 - mesmo que o cenário não fosse um castelo gótico da Europa Oriental, mas uma espaçonave à deriva no espaço. Sugerindo mais do que mostrando, Ridley Scott testou os nervos do público ao encenar a batalha entre Ripley (Sigourney Weaver) e uma forma de vida ameaçadora, acima do homo sapiens na cadeia alimentar.

(Alien, EUA, 1979) De Ridley Scott. Com Tom Skerrit, Sigourney Weaver. 117min.


BLADE RUNNER - O CAÇADOR DE ANDRÓIDES (BLADE RUNNER)

No futuro, a cibernética evolui ao ponto de criar máquinas moldadas à imagem e semelhança do homem - que, como seu invetor, começam a questionar a existência. A culminação desse dilema é a belíssima cena em que um malvado "replicante" - (Rutger Haver), despontando para o anonimato - desiste de liquidar o herói Deckard (Harrison Ford), apenas para lhe provar o valor da vida. Soberbo nos momentos intimistas, frenético nas sequências de ação, Blade Runner redefiniu a ficção cinematográfica nos anos 80.

(Blade Runner, EUA, 1982) De Ridley Scott. Com Harrison Ford, Rutger Haver. 117min.


O EXTERMINADOR DO FUTURO (THE TERMINATOR)

Para impedir que a resistência humana combata uma ditadura de máquinas instaurada no futuro, super--robôs enviam ao passado um executor indestrutível, mas um rebelde realiza a mesma viagem do exterminador e, em um dos mais curiosos paradoxos temporais do cinema, engravida a mulher que dará à luz o líder da resistência, John Connor.



(The Terminator, EUA, 1984) De James Cameron. Com Arnold Schwarzenegger, Michael Biehn. 108min.


JURASSIC PARK - O PARQUE DOS DINOSSAUROS (JURASSIC PARK)

Experimento traz de volta à terra várias espécies de dinossauros, extintas há milhões de anos. Os animais são acondicionados em parque temático restrito a milionários - o que parece uma boa idéia, até que as condições de segurança revelam-se inadequadas. Além de representar um "salto" na evolução das técnicas de efeitos especiais, o filme demarcou o ponto em que a engenharia genética substituiu o robótica como vilã em filmes do gênero.


(Jurassic Park, EUA, 1993) De Steven Spilberg. Com Sam Neil, Laura Dern. 127min.


MATRIX (THE MATRIX)

Em uma trama inspirada em Confúcio, Lewis Carrol e no Novo Testamento, o homem descobre que a Terra foi destruída há tempos - o que vivemos é uma engenhosa alucinação coletiva, planejada e mantida por máquinas. Um núcleo de resistência desafia a "matrix", tentando devolver ao homo sapiens o domínio da Terra. Ao atualizar clichês das produções citadas anteriormente, Matrix permitiu à ficção continuar a exercer seu papel de oráculo da atualidade.


(The Matrix, EUA, 1999) De Andy e Larry Wachowski. Com Keanu Reeves, Laurence Fishburne. 136min.


Por: Gledson Luis 16/10/09

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