21 de set. de 2009

Review: 1001 Filmes Para Ver Antes de Morrer - Editora Sextante - 960 Páginas


SOBRE A EDIÇÃO
O livro é composto por obras de mais de 30 países e traz o melhor do cinema de todos os tempos – produções que marcaram época. Os filmes foram selecionados e comentados por críticos consagrados, passando por todos os gêneros da sétima arte – ação, animação, comédia, aventura, documentário, musical, romance, drama, suspense, terror, curta-metragem, ficção científica e vanguarda.
Organizado em ordem cronológica, esta obra permite conhecer mais sobre as produções escolhidas e traz ilustrações de cenas de filmes, cartazes e retratos de atores, desde "Viagem à Lua" de 1902 até "Desejo e Reparação" 2007. Você vai descobrir os filmes que não deveria ter perdido, os clássicos que merecem ser revistos e obras-primas de que você nunca tinha ouvido falar, até agora!

 EDITORA SEXTANTE - 960 PÁGINAS

Quanto tempo você leva para ver um total de 1001 filmes? A maioria dos mortais comuns provavelmente passará a vida inteira sem ver tantas obras de arte audiovisuais, mesmo incluindo aquelas sessões despretensiosas em que a televisão está ligada e você espia de vez em quando, com o rabo do olho, enquanto cochila no sofá ou faz qualquer outra coisa na sala de sua casa. Um cálculo rápido confirma o raciocínio: se vir um filme por dia, religiosamente (número que raríssimos cinéfilos conseguem cumprir), você vai precisar de três anos e três meses para completar todas as indicações sugeridas por “1001 Filmes para Ver Antes de Morrer”, a compilação de 960 páginas coordenada por Stephen Jay Schneider. Trata-se de um sucesso editorial traduzido para 25 línguas e com mais de um milhão de exemplares vendidos pelo mundo.


É difícil imaginar uma razão objetiva e sensata que leve um pesquisador a coordenar um grupo internacional e multidisciplinar de trabalho, composto por 75 críticos e estudiosos de cinema de nove diferentes países, na tarefa hercúlea de selecionar os títulos e escrever pequenas resenhas críticas sobre cada um deles. No prefácio da luxuosa edição brasileira, toda impressa em papel couché, Schneider confessa: não há argumento capaz de sustentar a consistência ou a lógica do projeto. Ao concebê-lo, ele simplesmente queria juntar um grupo de apaixonados por cinema e incentivá-los a compartilhar esse amor com outras pessoas, com qualquer grau de conhecimento técnico-teórico sobre filmes, que também gostassem de se embriagar com filmes. A arte, afinal, não é objetiva. E nem precisa ser sensata.


Acima: Viagem à Lua (Le Voyage Dans La Lune) - 1902


Para a seleção final, houve apenas um critério de escolha: cada título precisava ter algum grau de importância na história da Sétima Arte, fosse esse critério técnico, narrativo, estético, social, econômico, político. O sucesso de público, tanto quanto as qualidades formais, também foi levado em consideração. Schneider diz que o ecletismo pesou na lista final – ele e os colegas queriam oferecer ao leitor um panorama completo do cinema, dos pequenos faroestes e comédias mudos da primeira década do século XX aos grandes musicais da Golden Age de Hollywood (1935-50), do impressionismo francês (década de 1930) ao neo-realismo italiano (1940-50), da emergência dos blockbusters nos EUA (1975-80) aos pequenos e obscuros filmes dinamarqueses e iranianos que sacudiram o mundo dos cinéfilos na década de 1990. Está tudo lá.

Acima: Cantando na Chuva (Singin's In The Rain) - 1952


Cinéfilos mais radicais podem reclamar do tamanho dos textos. Durante a fase final da seleção, Schneider dividiu os filmes em três blocos principais. O autor do texto sobre cada obra tinha que escrever 150, 250 ou 500 palavras, conforme o grau de importância dado ao filme na lista definitiva. Todos os autores foram orientados a incluir elementos de contextualização histórica, pequenas descrições e uma breve análise estético-narrativa. Tudo muito sucinto. Sim, é um livro de críticas ligeiras, mas isso não quer dizer que os textos sejam superficiais ou descartáveis. Num trabalho desse porte, é natural que o nível varie de texto para texto. As críticas vão do trivial ao brilhante. Há alguns erros factuais (“Todos os Homens do Presidente” não ganhou o Oscar de melhor filme), mas no geral a maior parte dos textos cumpre perfeitamente a função primária desse tipo de trabalho: despertar a atenção do leitor, fazê-lo sentir vontade de ver certos títulos que, de outro modo, ele jamais se sentiria tentado a procurar na locadora.


Acima: O Resgate do Soldado Ryan (Saving Private Ryan) - 1998


Além disso, a apresentação gráfica é impecável. A seleção de fotos e cartazes das produções – de excelente qualidade, com muito material raro – é de dar água na boca até de cinéfilos mais experientes. E o Brasil sai bem na fita. Além de emplacar um representante entre os críticos que escreveram para a publicação (Jaime Biaggio, do jornal O Globo, contribuiu com alguns textos), o país tem diversos filmes na lista, inclusive trabalhos de Glauber Rocha e Hector Babenco, além do quase onipresente “Cidade de Deus” (o filme de Fernando Meirelles tem lugar cativo na lista dos 20 melhores filmes da história do cinema, no banco de dados mais completo do mundo, o IMDb).

Acima: Fargo (Fargo) - 1996


Para um cinéfilo, mesmo experiente, é sempre um prazer folhear um livro como “1001 Filmes para Ver Antes de Morrer”. É preciso, porém, não perder de vista o caráter panorâmico da publicação, além de considerar também algumas observações importantes – em grande parte dos textos, por exemplo, os autores não hesitam em entregar toda a trama do filme, inclusive o final, o que pode desagradar muitos leitores. Essa característica, aliás, mostra que o editor tinha total consciência do papel da publicação no tímido mercado editorial sobre cinema. No fundo, a compilação presta-se mais ao papel de volume de consultas, quase como uma enciclopédia ou dicionário, do que ao de tomo definitivo sobre os grandes filmes da história do cinema. Tendo isso em mente, é só deixar a memória viajar sobre alguns clássicos (e outros nem tanto) da Sétima Arte.

Acima: Casablanca (Casablanca) - 1942


INTRODUÇÃO DO LIVRO -POR STEVEN JAY SCHNEIDER:


Conforme seu título já sugere, 1001 filmes para ver antes de morrer é um livro que busca não apenas informar e sugerir, mas também motivar: transformar leitores curiosos em espectadores apaixonados e deixar claro que a pressão é imensa, o tempo é curto e o número de filmes que devem ser assistidos se tornou realmente grande. Hoje em dia, listas dos "10 mais" sobrevivem quase exclusivamente como enquetes anuais dos críticos e debates sobre os "100 melhores filmes" tendem a se restringir ou a gêneros específicos - como comédia, terror, ficção científica, romance ou faroeste - ou a cinematografias nacionais, como as da França, China, Itália, Japão ou Inglaterra. Tudo isso indica a impossibilidade - ou pelo menos a irresponsabilidade - de se trabalhar com um número menor do que (digamos) mil, quando se pretende preparar uma lista dos "melhores", ou dos mais valiosos, importantes ou inesquecíveis filmes de todos os tempos; uma lista que queira fazer justiça e abranger toda a história da mídia cinematográfica.


Com o objetivo acima em mente, mesmo 1001 rapidamente começa a parecer um número pequeno demais. Talvez nem tanto, se deixássemos de fora os filmes mudos; ou de vanguarda; ou do Oriente Médio; ou as animações; ou os documentários; ou os curta-metragens... Essas estratégias de exclusão, contudo, acabam sendo apenas maneiras de diminuir a pressão, de traçar linhas arbitrárias na areia cinematográfica e de se recusar a tomar a série de decisões difíceis, porém necessárias, para se ter uma seleção limitada de filmes que trate todos os tipos e escolas e tradições diferentes que compõem a arte do cinema com o respeito que lhes é devido. O livro que você tem em mãos assume um grande risco ao oferecer uma lista de filmes imperdíveis que abrange todas as épocas, gêneros e países. Contudo, este é um risco que vale a pena correr e, se você estiver disposto a ver todos os filmes discutidos aqui, pode ter certeza de que morrerá um cinéfilo feliz. Resumindo: quanto mais filmes você vir, melhor.


Então, como determinamos quais 1001 filmes você deve ver antes de morrer? Seria muito mais fácil, e geraria menos controvérsia, se tivéssemos que listar 1001 filmes que devem ser evitados a qualquer custo! Não é nada surpreendente quando se descobre que a crítica de cinema não pode ser considerada uma ciência exata, e não é exatamente um exagero dizer que o Perdidos na noite de uma pessoa pode muito bem ser o Ishtar de outra. Talvez haja maneiras de comparar objetivamente - e até classificar - ciclos, movimentos e subgêneros altamente codificados e historicamente específicos, como o thriller italiano da década de 70, tendo por base, neste caso, a violência estilizada, as narrativas labirínticas e a identificação psicológica. E talvez seja legítimo separar os clássicos indiscutí veis de Hitchcock (Intriga internacional, Janela indiscreta, Um corpo que cai, Psicose, Os pássaros, etc.) dos que são geralmente considerados filmes mais fracos do diretor (Cortina rasgada, Trama macabra, Topázio, Agonia de amor). Porém, em que se basear para escolher entre A hora da partida, de Tsai Ming Liang, e O que terá acontecido a Baby Jane, de Robert Aldrich? Ou entre Viagem à Lua, de George Méliès, e Uma questão de silêncio, de Marleen Gorris? Se o objetivo deste livro é mesmo incluir um pouco de tudo, então como evitar que a lista de 1001 filmes resultante se torne uma grande e diversificada amostra da produção cinematográfica - um caso de mera variedade em detrimento do verdadeiro valor?


Depois de chegarmos a um conjunto provisório de cerca de 1300 títulos, partimos para revisar a lista de novo (e de novo, de novo, de novo...) com o duplo - e conflitante - objetivo de reduzir o número total e ainda abranger a contento os vários períodos, cinematografias nacionais, gêneros, movimentos, escolas e autores notáveis. Com todo o respeito à última categoria, interpretamos a noção de "autor" com a maior flexibilidade possível, de modo a incluir não apenas diretores (Woody Allen, Ingmar Bergman, John Cassavetes, Federico Fellini, Jean-Luc Godard, Abbas Kiarostami, Satyajit Ray, etc.), como também atores (Humphrey Bogart, Marlene Dietrich, Toshirô Mifune), produtores (David O. Selznick, Sam Spiegel, Irving Thalberg), roteiristas (Ernest Lehman, Preston Sturges, Cesare Zavattini), fotógrafos (Gregg Toland, Gordon Willis, Freddie Young), compositores (Bernard Hermann, Ennio Morricone, Nino Rota), etc.


Também tomamos o cuidado de não dar preferência automática - passe livre, por assim dizer - a produções autodesignadas como "de alto nível" ou exemplos de grande arte cinematográfica (épicos históricos, adaptações da obra de Shakespeare, experimentos dos formalistas russos), deixando de lado os gêneros considerados "menores" (comédia pastelão, filmes de gângster da década de 30, cinema de blaxploitation), ou até mesmo filmes de méritos estéticos relativamente questionáveis (Pink Flamingos, Os embalos de sábado à noite, A bruxa de Blair), franco apelo popular (Top Gun - Ases indomáveis, Quero ser grande, E.T.: o extraterrestre), ou aqueles de valor ideológico ou ético questionáveis (O nascimento de uma nação, Monstros, O triunfo da vontade, Os 120 dias de Sodoma). Em vez disso, nos esforçamos para julgar cada um dos candidatos por suas próprias qualidades, o que significava, para começo de conversa, descobrir da melhor forma possível em que consistia a "qualidade" em questão - o que nem sempre é tarefa simples ou óbvia, como no caso de Pink Flamingos, cuja infame chamada já dizia "um exercício de mau gosto" - e então encontrar maneiras de separar o joio do trigo (mesmo que a diferença entre os dois pareça tão pequena a ponto de ser indiscernível ou irrelevante).


Existe um velho ditado que diz: "Mesmo que você coma filé mignon todos os dias, de vez em quando vai querer um hambúrguer." Em outras palavras, mesmo que seu gosto cinematográfico pese bastante para o lado dos clássicos mundiais reconhecidos (Cidadão Kane, Rashomon, Touro indomável e Encouraçado Potemkim), ou dos tesouros do cinema de arte europeu (A aventura, Hiroshima meu amor e Último tango em Paris), em algum momento você irá querer assistir a um filme que se presta a objetivos completamente diferentes, seja ele um megassucesso hollywoodiano (O parque dos dinossauros, O império contra-ataca, Titanic), uma bizarrice underground (Scorpio Rising, Criaturas flamejantes, Hold me While I'm Naked), ou uma curiosidade cult (El Topo, O segundo rosto, Slacker, Mundo cão, O homem de ferro). Da forma como pensamos este projeto, nossa tarefa principal era garantir que, qualquer que fosse seu gosto cinematográfico genérico, ou naquele dia específico em que você resolvesse experimentar algo diferente, este livro pudesse ser um menu em que cada prato é sempre bom.


Por: Gledson Luis 21/09/09

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